sexta-feira, 10 de maio de 2013

Crônica


SINAL VERMELHO. CUIDADO!

Amo dirigir. Gosto de ir onde quero sem precisar de ninguém.
Trabalho, levo filhos à escola, faço compras e tudo o mais sem ficar pedindo, e até implorando, para o marido me levar.
Quando saímos juntos eu nem discuto mais, ele dirige. É o homem, macho da espécie, senhor do automobilismo, fera do asfalto...
Se eu não fosse tão independente, hoje estaria com ele ao volante me levando ao cabeleireiro, reclamando e falando da pressa, da urgência, de jogar futebol com os amigos.
Farol vermelho! Odeio quando está fechado. Não faz muito tempo uma amiga foi assaltada aqui as 9 da manhã. Pelo menos sou a primeira, o carro fica mais visível e isso dificulta a abordagem de assaltante.
Enquanto penso olho pelo retrovisor e percebo um motoqueiro aproximando devagar.
Meu Deus ele vai me assaltar!
Mal consigo me mexer. Aperto o botão para subir o vidro, prendo a respiração. Chego a ouvir meu coração disparado.
Ouço batidas no vidro.
Meu Deus ele deve estar armado!
Estou apavorada e paralisada. Tudo parece estar em câmara lenta.
Sem coragem de olhar em direção ao meliante, instintivamente penso em procurar marcas que possam identificá-lo.
Mas... E se ele disparar contra mim!? Meu carro não é blindado e por mais que o vidro desvie a bala, ainda assim, o tiro vai me acertar e eu posso não sobreviver. Já me vejo no velório... Meus filhos ainda precisam de mim. Meu marido vai ficar com a minha pensão e vai arrumar outra e trazê-la minha para casa!
O rapaz de capacete reluzente levanta o visor e bate novamente no vidro com o nó do dedo maior dizendo algo que não entendo.
É melhor entregar tudo rapidamente para me salvar. Ah meu Pai, se eu sair dessa com vida prometo ser uma pessoa melhor. Eu juro.
O rapaz aponta para a porta.
Ele quer que eu abra!
Fala mais alto e mais grave.
Quer impor sua autoridade e superioridade sobre mim, pobre mulher frágil e indefesa.
Agora ouço claramente.
 “Ô senhora!”
 É assim mesmo que eles falam...
 “Ô senhora, a porta tá aberta.”
Um “Ah” escapa. Toda a tensão se esvai. Volto a respirar. Aliviada.
Olho para o rapaz que sai em velocidade assim que o farol da transversal está no amarelo.
Sinto-me envergonhada. Preciso parar de assistir aos noticiários sensacionalistas...
Bato a porta. Sigo o fluxo. O farol está verde!





 NOVAMENTE  EU
.
O que acontece comigo?
Preciso de um abrigo
Para meu coração incandescente.
Será que erro ao me entregar?
Talvez devesse mentir
Deixar de me mostrar
E ironicamente rir.
Ou quem sabe então,
Retirar-me deste mundo,
Fechar meu coração
E ficar no escuro profundo
Outras vezes, penso eu,
Devo brincar com o alheio.
Dizer “meu coração é só seu”
Enquanto a todos anseio.
Mas sei que não sou assim.
Quero chorar e rir de felicidade,
Encontrar quem goste de mim
Pra não sofrer de saudade.

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