SINAL VERMELHO. CUIDADO!
Amo dirigir.
Gosto de ir onde quero sem precisar de ninguém.
Trabalho,
levo filhos à escola, faço compras e tudo o mais sem ficar pedindo, e até
implorando, para o marido me levar.
Quando
saímos juntos eu nem discuto mais, ele dirige. É o homem, macho da espécie,
senhor do automobilismo, fera do asfalto...
Se eu não
fosse tão independente, hoje estaria com ele ao volante me levando ao
cabeleireiro, reclamando e falando da pressa, da urgência, de jogar futebol com
os amigos.
Farol vermelho!
Odeio quando está fechado. Não faz muito tempo uma amiga foi assaltada aqui as
9 da manhã. Pelo menos sou a primeira, o carro fica mais visível e isso
dificulta a abordagem de assaltante.
Enquanto
penso olho pelo retrovisor e percebo um motoqueiro aproximando devagar.
Meu Deus ele
vai me assaltar!
Mal consigo
me mexer. Aperto o botão para subir o vidro, prendo a respiração. Chego a ouvir
meu coração disparado.
Ouço batidas
no vidro.
Meu Deus ele
deve estar armado!
Estou
apavorada e paralisada. Tudo parece estar em câmara lenta.
Sem coragem
de olhar em direção ao meliante, instintivamente penso em procurar marcas que
possam identificá-lo.
Mas... E se
ele disparar contra mim!? Meu carro não é blindado e por mais que o vidro
desvie a bala, ainda assim, o tiro vai me acertar e eu posso não sobreviver. Já
me vejo no velório... Meus filhos ainda precisam de mim. Meu marido vai ficar
com a minha pensão e vai arrumar outra e trazê-la minha para casa!
O rapaz de
capacete reluzente levanta o visor e bate novamente no vidro com o nó do dedo
maior dizendo algo que não entendo.
É melhor
entregar tudo rapidamente para me salvar. Ah meu Pai, se eu sair dessa com vida
prometo ser uma pessoa melhor. Eu juro.
O rapaz
aponta para a porta.
Ele quer que
eu abra!
Fala mais
alto e mais grave.
Quer impor
sua autoridade e superioridade sobre mim, pobre mulher frágil e indefesa.
Agora ouço
claramente.
“Ô senhora!”
É assim mesmo que eles falam...
“Ô senhora, a porta tá aberta.”
Um “Ah”
escapa. Toda a tensão se esvai. Volto a respirar. Aliviada.
Olho para o
rapaz que sai em velocidade assim que o farol da transversal está no amarelo.
Sinto-me
envergonhada. Preciso parar de assistir aos noticiários sensacionalistas...
Bato a
porta. Sigo o fluxo. O farol está verde!
NOVAMENTE
EU
.
O que
acontece comigo?
Preciso de
um abrigo
Para meu
coração incandescente.
Será que
erro ao me entregar?
Talvez
devesse mentir
Deixar de me
mostrar
E
ironicamente rir.
Ou quem sabe
então,
Retirar-me
deste mundo,
Fechar meu
coração
E ficar no
escuro profundo
Outras
vezes, penso eu,
Devo brincar
com o alheio.
Dizer “meu
coração é só seu”
Enquanto a
todos anseio.
Mas sei que
não sou assim.
Quero chorar
e rir de felicidade,
Encontrar
quem goste de mim
Pra não
sofrer de saudade.